Foto: Asociación Bosque de las Nuwas ©Daniel Martínez
A NESsT possui um portfólio de mais de 50 empresas na Amazônia. Nos últimos cinco anos, nossos gestores de portfólio trabalharam com essas empresas para medir, monitorar e ampliar seus impactos.
A metodologia de medição e gestão de impacto (IMM – Impact Measurement and Management) da NESsT foi desenvolvida com base em mais de duas décadas de experiência investindo e catalisandonegócios socioambientais em mercados emergentes.
“Focando apenas em métricas e resultados quantitativos corremos o risco de negligenciar informações qualitativas valiosas que poderiam nos ajudar a tomar melhores decisões de investimento e impacto. Esse risco é ainda mais significativo ao trabalhar em áreas como a Bacia Amazônica, onde uma compreensão profunda do contexto local é crucial para uma medição de impacto precisa e confiável.”
Como melhorar relatórios de impacto para refletir as dimensões qualitativas do resultados sociais e ambientais?
Ferramenta de Medição e Gestão de Impacto da NESsT
A NESsT avalia seu impacto por meio de sua Ferramenta de Gestão de Desempenho (PMT), desenvolvida em 1999 para medir e gerenciar os resultados de negócios e suas cadeias de valor, incluindo seu desempenho social e ambiental.
Tiana Lins (à esquerda) e Renata Truzzi (à direita) da NESsT compartilham métodos de medição e gestão de impacto da NESsT no evento ‘Metrics from the Ground Up’ da ANDE 2023, no Rio de Janeiro.
O impacto de ter acesso a um trabalho bom pode variar muito dependendo do contexto, incluindo questões raciais e de gênero, idade e localização geográfica. Ciente disso, a equipe da NESsT refina ativamente a PMT para refletir melhor como seu portfólio gera impacto.
Em 2016, a NESsT assumiu um compromisso com a equidade e inclusão de gênero, começando por suas políticas e procedimentos internos e estendendo esses princípios às empresas sociais em seu portfólio. Este processo visava capturar as dinâmicas de gênero em todo o portfólio e fechar quaisquer lacunas identificadas, melhorando a inclusão financeira e social de comunidades em maior situação de vulnerabilidade.
Abaixo estão exemplos de indicadores de gênero que a NESsT acompanha como parte de sua estratégia de Investimento com Foco em Gênero:
Liderança:
Número de fundadores/proprietários homens e mulheres, membros do conselho e gestores.
Funcionários:
Número de homens e mulheres empregados de forma permanente.
Número de homens e mulheres em situação de vulnerabilidade treinados e empregados, incluindo novos empregados e com contratos.
Número de homens e mulheres em situação de vulnerabilidade com empregos temporários, permanentes, em regime de meio período ou período integral, e com contratos.
Fornecedores:
Número de homens e mulheres em situação de vulnerabilidade como fornecedores, incluindo novos fornecedores, fornecedores com contratos e volume total adquirido.
Trabalhadores diários:
Número de homens e mulheres em situação de vulnerabilidade como trabalhadores diários, incluindo os com contratos.
Renda paga a homens e mulheres:
Salários mensais médios pagos: a homens e mulheres (em situação de vulnerabilidade e aqueles que não estão) em cargos técnicos e de gestão; a homens e mulheres em situação de vulnerabilidade que o negócio ajudou a empregar em outros locais; a fornecedores homens e mulheres em situação de vulnerabilidade; e a trabalhadores diários homens e mulheres em situação de vulnerabilidade.
Apesar de o processo de IMM atual da NESsT fornecer insights detalhados, buscou-se desenvolver métodos mais específicos para entender a cultura e o contexto dos dados coletados, especialmente para empreendimentos na Amazônia.
Desenvolvendo uma abordagem IMM mais contextualizada priorizando as vozes das comunidades locais
“Um dos temas mais urgentes que estamos abordando na NESsT é como apoiar iniciativas de bioeconomia e stakeholders do setor para tomar melhores decisões sobre impacto ambiental e de gênero, colocando no centro as vozes das comunidades locais e capturando resultados reais.”
Em 2022, a NESsT uniu-se ao Consórcio NAR (Negócios Alimentares Regenerativos) e à Fundação Mott para estudar a interseccionalidade de gênero, meio ambiente e acesso a recursos financeiros na bioeconomia amazônica. De forma distinta, cada parceria de pesquisa explora como práticas de empresas da bioeconomia em agricultura regenerativa e equidade de gênero podem combater as mudanças climáticas e melhorar a inclusão financeira de povos indígenas, quilombolas e comunidades ribeirinhas e locais, especialmente mulheres.
Especificamente, a NESsT juntou-se ao consórcio Negocios Agroalimentarios Regenerativos (NAR), apoiado pelo IDRC, iniciativa dedicada a compreender melhor o valor de investimentos em negócios de alimentos regenerativos sob a ótica de gênero.
Foto: Reunião na empresa do portfólio da NESsT, Cooaprime
Durante a colaboração com 10 organizações do consórcio, a NESsT conseguiu aprimorar seus indicadores quantitativos e qualitativos para refletir melhor as realidades das comunidades locais na Amazônia. A parceria possibilitou pesquisas de campo, complementadas por escuta ativa, desenvolvimento e implementação de planos de treinamento de gênero e mentoria personalizada em gênero.
A equipe da NESsT complementou a pesquisa documental sobre a geografia, população e cadeias de suprimentos dessas iniciativas com visitas a 11 empresas na bacia amazônica. Durante essas visitas, os gestores do portfólio da NESsT ouviram ativamente empreendedores, funcionários e comunidades apoiadas por meio de conversas individuais. Os entrevistados compartilharam reflexões e discutiram o que as descobertas de impacto inicial e a metodologia da NESsT significavam para eles.
Em seguida, a NESsT cocriou planos de ação com cada empresa indígena para desenvolver estratégias de inclusão de gênero e agricultura regenerativa que pudessem ser implementadas. Com base nos aprendizados dessas parcerias e de outras iniciativas, a NESsT refinou seus indicadores verdes.
Agora, além de monitorar cadeias de valor e a participação de comunidades indígenas, a NESsT também acompanha:
Número de hectares de áreas protegidas sob boa gestão (ex.: parques, reservas, áreas protegidas privadas).
Número de hectares de terras restauradas (ex.: desmatadas/degradadas).
Número de hectares de paisagens sob práticas sustentáveis (ex.: certificação orgânica, policultura, agroflorestas).
Toneladas de resíduos não biodegradáveis evitados.
Toneladas de combustíveis fósseis evitados.
Toneladas de emissões de CO2 evitadas.
Estudo de Caso da NESsT: Entrevistando a Associação Bebô Xikrin do Bacajá (ABEX)
A ABEX é uma associação liderada por indígenas, criada em 2003 com a missão de defender os interesses do povo Xikrin em seu território oficialmente reconhecido – a Terra Indígena Trincheira Bacajá (TITB) na Amazônia brasileira.
Trabalhando para garantir a qualidade de vida e o bem-estar de mais de 60 famílias Xikrin, a ABEX apoia seus membros no uso de métodos sustentáveis para a coleta de produtos florestais não madeireiros, como castanhas do Pará, pagando preços justos por seus produtos. Cerca de 70% das pessoas apoiadas pela ABEX são mulheres.
Apoiar o empoderamento social, econômico e de gênero das mulheres Xikrin em Bacajá
Como detentoras do conhecimento ancestral do povo Xikrin, as mulheres Xikrin, conhecidas como menhirs, desempenham um papel fundamental na preservação da cultura Mebengôkre. Além de transmitir esse conhecimento para seus filhos e netos, elas têm um papel central no cultivo de alimentos, na manutenção das casas e no cuidado com as crianças e com a comunidade como um todo.
Apesar disso, a participação das menhirs nas atividades das comunidades locais era limitada, sendo inicialmente envolvidas nas atividades da ABEX apenas no nível de produção. Na cadeia de valor das castanhas do Pará, por exemplo, elas descascavam, lavavam e secavam as castanhas coletadas pelos homens, que ficavam responsáveis pelas negociações e vendas.
Durante a pandemia, a ABEX recebeu uma pequena doação para a confecção de máscaras de proteção contra a COVID-19, abrindo uma nova linha de negócios para a associação. Muitas mulheres começaram a se interessar pela perspectiva de criar artesanatos decorados com a prática ancestral Mebengôkre de pintura com estampas.
O que começou com oito mulheres na aldeia Xikrin de Prindjãm logo se expandiu para outras aldeias, com mais mulheres se reunindo para costurar, pintar e vender seus produtos para a ABEX.
Em 2021, a ABEX juntou-se ao projeto Direitos e Recursos Indígenas na Amazônia (Amazon Indigenous Rights and Resources – AIRR), implementado em parceria com a NESsT, o World Wildlife Fund (WWF), organizações indígenas e a Coordenadora das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA), com apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Junto com os gestores de portfólio da NESsT, as artesãs Xikrin identificaram maneiras de melhorar a cadeia de produção de artesanato. Máquinas de costura foram adquiridas com recursos do projeto, e as mulheres Xikrin foram treinadas para substituir o trabalho manual.
Com a melhoria dos processos e a produção de peças de maior qualidade, que atendiam às demandas de grandes empresas, as mulheres começaram a produzir itens mais complexos e a vendê-los em todo o país.
A linha de negócios de artesanato expandiu rapidamente, e as receitas de vendas quase igualaram às da linha de castanhas do Pará.
Ao fortalecer a cadeia de artesanato nas aldeias Xikrin, as menhirs começaram a trabalhar de forma mais independente, com menor mediação dos homens. Hoje, mais de 200 mulheres Xikrin em 22 aldeias do território produzem telas pintadas à mão, bolsas, vestidos, colares, pulseiras e brincos de miçangas, que são vendidos diretamente para empresas no mercado nacional a preços justos.
No entanto, durante as visitas da NESsT, as mulheres Xikrin relataram que ainda não tinham voz nos processos de tomada de decisão dentro da associação.
Como parte de um plano de ação cocriado ao integrar o portfólio de aceleração da NESsT, a ABEX comprometeu-se a incluir as mulheres Xikrin em sua estrutura organizacional. Trabalhando de perto com os gestores de portfólio da NESsT, em março de 2023, foi criado um Comitê de Mulheres. Além disso, duas mulheres foram eleitas para atuar como vice-tesoureira e como parte do conselho fiscal da associação.
“Estamos mais felizes desde que começamos a trabalhar com a ABEX. Temos mais independência financeira e não dependemos mais de nossos maridos. Nossa qualidade de vida vai continuar melhorando, especialmente quando todas forem treinadas para costurar, o que permitirá aumentar a produção em todas as aldeias. Meu próximo desejo é ver treinamentos em boas práticas focados em habilidades de costura e gestão financeira para as mulheres Xikrin.”
A NESsT está atualmente testando essa abordagem colaborativa de IMM e planeja ampliá-la para outras empresas de seu portfólio na Amazônia.
A NESsT planeja incorporar indicadores gerais relacionados a gênero e meio ambiente que possam ser aplicados a todo o seu portfólio de empresas sociais e ambientais, como no caso da ABEX. Além disso, a organização complementará esses dados quantitativos com narrativas que capturem a diversidade cultural, histórica e social de cada comunidade e seus habitantes.
Você pode acompanhar nosso progresso no campo da medição e gestão de impacto assinando a newsletter da NESsT e seguindo a NESsT no LinkedIn e no Instagram.
Leia mais sobre a história da Associação Bebô Xikrin do Bacajá (ABEX) aqui em inglês e espanhol.