Apoio ao empoderamento das mulheres Xikrin do Bacajá: Ampliação de suas vozes por meio de uma nova linha de produtos artesanais

Localizada no estado do Pará, no Brasil, a Associação Bebô Xirin do Bacajá (ABEX) é uma associação liderada por indígenas que participou do projeto Direitos e Recursos Indígenas da Amazônia (AIRR), lançado em 2021 para apoiar as populações indígenas a se tornarem atores mais visíveis e ativos na economia amazônica, de forma a conservar a biodiversidade da floresta tropical e criar resiliência ambiental. Após a conclusão do projeto, a ABEX passou a integrar o NESsT portfólio da Amazônia.

O projeto AIRR foi coimplementado pela NESsT em parceria com o World Wildlife Fund (WWF), organizações indígenas e a Coordenadoria das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA), com o apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).


Membros da ABEX, a Terra Indígena Trincheira Bacajá (Pará, Brasil).

A Associação Bebô Xirin do Bacajá(ABEX) foi fundada em 2003 com a missão de proteger o povo Xikrin dentro da Terra Indígena Trincheira Bacajá (Pará, Brasil). Seu objetivo é melhorar a qualidade de vida e o bem-estar social do povo Xikrin por meio da promoção de produtos sociais e biodiversos da floresta, começando pela castanha da Amazônia.

Culturalmente, as mulheres Xikrin tinham visibilidade limitada em seu território e eram frequentemente relegadas a papéis de mães e administradoras de seus lares e tradições. As mulheres Xikrin (conhecidas como "menires" na língua Mebêngôkre) foram inicialmente excluídas dos processos de tomada de decisão da ABEX e dos aspectos comerciais da produção. Como a castanha amazônica era o único produto da ABEX, eram os homens que gerenciavam as negociações e as vendas, deixando poucos benefícios econômicos para as mulheres, cuja principal responsabilidade era processar as castanhas, quebrando-as, lavando-as e secando-as.

No entanto, essa situação começou a mudar em 2020, durante a pandemia da COVID-19, quando a ABEX recebeu uma pequena doação para produzir máscaras de proteção com a arte tradicional Xikrin. Esse projeto despertou o interesse de muitas mulheres, oferecendo-lhes uma nova perspectiva de vida por meio do artesanato. O número de mulheres envolvidas com artesanato aumentou rapidamente, expandindo-se para mais 12 comunidades associadas à ABEX, totalizando 117 membros. Elas diversificaram seus produtos para incluir itens como bolsas, tecidos e miçangas.

Com o apoio do projeto Direitos e Recursos Indígenas da Amazônia (AIRR) - implementado no Brasil pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Federação das Organizações e Povos Indígenas do Mato Grosso (FEPOIMT), Federação dos Povos Indígenas do Estado do Pará (FEPIPA), NESsT, e WWF, com o apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) - as mulheres da Trincheira Bacajá passaram da produção manual para a mecanizada graças às máquinas de costura doadas e ao treinamento em corte e costura. Isso permitiu que as mulheres Xikrin fizessem produtos mais complexos, como estojos, cadernos e vestidos.

Esses esforços para fortalecer a linha de negócios de artesanato foram feitos sob medida para atender às aspirações das mulheres Xikrin, pois elas viam o artesanato como um meio de gerar renda e exercer maior autonomia sobre suas decisões, com menor mediação dos homens. Atualmente, as mulheres Xikrin não apenas administram suas casas e colhem castanhas da Amazônia, mas também trabalham fora de suas comunidades para promover e vender seus produtos.

A cadeia de suprimentos artesanal experimentou um crescimento notável em termos de associação e vendas, tanto que, em 2021, a receita do artesanato quase igualou a da produção de castanha da Amazônia.

Membros da ABEX com uma seleção de itens de artesanato produzidos por mulheres Xikrin.

Apesar disso, as mulheres ainda não tinham nenhum papel na tomada de decisões. Durante uma visita da equipe técnica do AIRR em abril de 2022, a presidente do grupo de artesãos estava convencida de que seria justo ter pelo menos uma representante feminina na diretoria da ABEX. Essa representante poderia defender as cadeias de suprimentos do artesanato e do óleo de babaçu (um novo produto que a ABEX estava promovendo).

Embora inicialmente o presidente da associação tenha expressado dúvidas de que os homens votariam para apoiar a participação das mulheres na diretoria, ele concordou em estabelecer um comitê consultivo composto por mulheres Xikrin. Em março de 2023, uma nova assembleia se reuniu para eleger a diretoria, o que resultou na criação de um comitê masculino e na eleição de uma tesoureira adjunta feminina para a diretoria, juntamente com uma representante adicional para o conselho de supervisão da associação.

A ABEX agora faz parte do portfólio da NESsT Amazônia, que apoiará a ABEX com investimentos, orientação, treinamento e monitoramento do impacto social nos próximos três anos. Esses esforços continuarão a promover a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres Xikrin da Trincheira Bacajá, com base no progresso alcançado por meio do projeto AIRR.